SEBASTIÃO JACINTO DA SILVA
Nasceu na rua de São João em Palmeira dos Índios, no dia 23 de outubro de 1933. Filho de Joana Pais da Silva, dona Joaninha.
Adolescente começou a cantar emboladas e forró, imitando Jackson do Pandeiro, de quem explorou o repertório e estética.
Em 1963 gravou o seu primeiro disco intitulado Ritmo Explosivo. Sua primeira apresentação pública foi na década de 50, no auditório da velha Rádio Difusora em Maceió, no programa da saudosa Odete Pacheco, onde foi batizado o com o nome artístico de Jacinto Silva.
Foi residir em Caruaru no dia 30 de agosto de 1958, onde trabalhava como fabricante de mosaicos. Vinha de Palmeira com um casamento desfeito e conheceu dona Lieta, que costurava e acabaram se casando. Gravou de 1962 a 2000, desse período conseguimos coletar cerca de 20 obras.
Numa fase em que ficou desempregado, acabou costurando também e se tornando exímio alfaiate.
Ganhou fama ao conquistar o prêmio Sharp, com o disco: “Fome dá dor de cabeça”. Era considerado um mestre em emboladas, forró, coco de roda. Seus maiores sucessos foram: “O Bate manca” ,“ Chora Bananeira”, “ Rua de São João” “ Aquela Rosa “ ,“ Carreiro Novo”, “ Coco na Paraíba “ ,“ Sabiá da Mata”, “ Quero fumar mais Tonha”.
Especializou-s em coco de roda sendo elogiado pelo saudoso Rei do Baião Luiz Gonzaga e pela crítica musical. Participou em 1988, juntamente com banda de Pífanos de Caruaru, e outros artistas pernambucanos do Projeto; “O Vôo do Forró”, com uma série de apresentações na Europa, principalmente na França e Alemanha, onde gravou um CD de nome: Caruaru Capital do Forró, com duas músicas sua: “Só Mulher é quem faz o Homem sofrer”, “Em nome do Sol”.
De sua obra musical constam os discos: Ritmo Explosivo, Só era eu, Gírias do Norte, Eu chego lá, Confusão no Galinheiro, Festival de Verão, Jogo do Amor, Agora tu pega e Vira, Jacinto Silva, Vestido de Maroca, Mocotó com Catuaba, Vire quem tem Forró, Desafio, O que pé meu, é teu, Saudade de Alagoas, Além da presença quase constante na série “Pau de Sebo” da CBS.
A sua música: Gíria do Norte tem versão em japonês.
Um fato inusitado gerou o boato de que ele morrera a míngua em Caruaru, desmentido por sua família.
Ocorre que ao saber da sua morte, a Prefeitura de Caruaru resolveu homenageá-lo doando um jazigo no cemitério para que ele fosse enterrado. Só que quando a família foi verificar, tratava-se do local destinado ao sepultamento de indigentes. Indignados os familiares recusaram a “homenagem” oficial de Caruaru e pagou do próprio bolso o túmulo do cantador alagoano.
O problema foi superado depois, com pedido de desculpas por parte da Prefeitura, mas o boato já se espalhara.
Faleceu as 17h e 10min do dia 19.02.2001 aos 67 anos, vítima de cirrose
Só a título de informação, entro agora para afirmar, que Jacinto Silva foi casado com uma sobrinha de minha avó, chamada Marina (falecida em São Caetano do Sul, São Paulo), e cujo uma das filhas, reside na rua Marujo Ferreira de Castro, aqui em Palmeira e se chama Sônia.
NOTÍCIA DE JORNAL PERNAMBUCANO
fonte: www2.uol.com.br/JC/_2001
O cantor e compositor Jacinto Silva morreu, ontem, aos 68 anos, por volta das 17h15, em Caruaru. O coquista e forrozeiro era hipertenso, diabético e tinha câncer no fígado, diagnosticado há quatro anos. O estado de saúde do artista agravou-se desde outubro, levando-o a cancelar alguns shows que faria com Silvério Pessoa (ex-vocalista do Cascabulho), o maior divulgador de sua obra.
“Conheci pessoalmente Jacinto Silva quando formei o Cascabulho, há seis anos, por intermédio de um compadre, Zé Manuel. Tínhamos uma relação de pai para filho”, conta, emocionado, Silvério Pessoa, que acompanhou de perto o sofrimento do músico caruaruense. “Quando deixei a banda, já tinha pronto o discurso e a idéia para o disco Bate o Mancá, graças a ele. Infelizmente, Jacinto morreu sem poder ouvir o disco pronto. Ele dividiu comigo a direção artística, cantou e emprestou o repertório para o CD e participou de diversos shows do Bate o Mancá. Quando estive em Caruaru no sábado, ele já estava em coma, respirando por aparelhos.”
O corpo de Jacinto Silva será enterrado hoje, à tarde, em Caruaru.
HERANÇA – Nascido em Palmeira dos Índios, Alagoas, Jacinto Silva ainda conseguiu lançar seu último disco Só Não Dança Quem Não Quer. Gravado há três anos para a Paradoxx, o CD ficou engavetado, até que o produtor Ze da Flauta, do selo Mangroove, o lançou, com uma tiragem de mil cópias. O cantor e compositor, no entanto, nada recebeu de direitos autorais, de acordo com familiares.
Foram anos de ostracismo, até que Jacinto Silva fosse redescoberto por Silvério Pessoa.
Ele começou a gravar, em 1959, na extinta Rozemblit, pela qual lançou seus primeiros sucessos, Chora Bananeira e Aquela Rosa.
O auge de sua carreira, porém, foi na CBS (atual Sony Music) onde gravou de 1963 a 1973.
Com Jacinto Silva desaparece também um dos últimos intérpretes de um estilo criado por Jackson do Pandeiro.
ENTREVISTA DE JACINTO SILVA
Jacinto Silva Forrozeiro volta ao disco virado na gota serena
fonte: Jornal do Commercio - Recife, 01 de outubro de 1998
O alagoano Jacinto Silva é um dos últimos nomes, ainda na ativa, de uma estirpe de forrozeiros, da qual Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga foram os nomes mais famosos e influentes.
Nos anos 60, ele fazia parte do elenco de forrozeiros da CBS, que vendia aos montes LPs da série Pau-de-Sebo, coletânea muito popular que agrupava, entre outros, Messias Holanda, Marinêz e sua Gente, Abdias, Messias Holanda, Elino Julião, Coroné Ludugero, Trio Nordestino.
Por volta de 1974, as multinacionais perderam o interesse pelo forró, e estes artistas mudaram-se para pequenas gravadoras, como a Canta Galo.
Muitos passaram a lançar discos esporadicamente ou simplesmente abandonaram os estúdios. É o caso de Jacinto Silva.
Hoje com 65 anos, e uma bagagem de mais de duzentas composições, 20 LPs, dois CDs (um lançado apenas na França), ele teve que bancar seu último disco.
Agora, finalmente, graças à intermediação do produtor Zé da Flauta, o intérprete de Chora Bananeira foi contratado pela Paradoxx, e o primeiro CD, de um contrato de três, deve chegar às lojas até o final do ano. Só Não Dança Quem Não Quer, o título.
Ele também está numa das faixas de Fome Dá Dor De Cabeça, disco de estreia da Cascabulho. Depois de muito tempo garantindo o sustento na indústria de roupas de sulanca, em Santa Cruz do Capibaribe, Jacinto Silva não apenas está sendo reabilitado pelos estúdios, como pela imprensa (mea culpa). Confira nesta entrevista concedida ao crítico e música José Teles.
Jornal do Commercio - Jacinto, você tem quantos anos de carreira?
Jacinto Silva - Comecei a gravar em 1959, na gravadora Mocambo. Gravei Justiça Divina (sempre que fala de uma música cantarola quase todas as estrofes). No outro ano vim com Chora Bananeira, Aquela Rosa. Meus primeiros sucessos eu fiz aqui no Recife, na gravadora Mocambo.
JC - Depois você passou para a CBS, participou da série Pau-de-Sebo, o que era um privilégio, que reunia a nata da música nordestina.
Jacinto - É, gravavam na CBS, Coronel Ludugero, Ótropi, Abdias, Marinez e sua Gente, Trio Nordestino, Osvaldo Oliveira, João do Pife. Quando morreu o saudoso Coronel Ludugero, surgiu um imitador o Coroné Ludru, e aí se juntaram à caravana da CBS, Jackson do Pandeiro e Elino Julião. Depois saiu o Jackson do Pandeiro, o Coroné Ludru saiu, eu sai, Abdias então criou, em outra gravadora, outro tipo de série, a Quebra Pote.
JC - Faça aí um resumo de tua carreira?
Jacinto - Sou alagoano da cidade mais bonita do Estado, Palmeira dos Índios. Comecei a cantar ao seis ou sete anos. Lembro que cantava tanto que aquilo incomodava a audição da minha mãe, ela pedia pra eu calar. Este tipo de música que canto, eu me espelhei no saudoso Jackson do Pandeiro, porque na época eu cantava músicas de Bob Nelson e Luiz Gonzaga, Ary Lobo. Foi quando Jackson apareceu cantando Forró em Limoeiro, Sebastiana. Aí sai de Alagoas, para ir para o Recife, depois pra Caruaru, Gravei uns quatro 78rpm na Mocambo, e em seguida fui pra CBS. Parti para outras firmas que não me deram a divulgação que eu precisava. Banquei um disco, parei. Ainda fui representar Caruaru, em Nancy, na França. Agora assinei um contrato de três com a gravadora Paradoxx. Acredito que daqui para o fim do ano o disco sai.
JC - Jacinto, relembra alguns dos teus sucessos.
Jacinto - Gravei (cantarola) "Chora bananeira/ bananeira chora/ chora bananeira que o seu amor foi embora" (parceria com Onildo Almeida). Depois: "Aquela rosa, foi uma jura que eu fiz/ aquela rosa." Depois, Rosa Branca, depois Quero ver Rodar, roda roda minha gente. Depois Ó Zezé. Foi uma infinidade de sucessos.
JC - Mas o forró, que tocava muito, acabou indo para os horários da madrugada pelas rádios, como aconteceu isto?
Jacinto - O forró sempre foi discriminado, especialmente o forró chulé, o pé-de-serra. Gravei na CBS de 63 a 1973, conheci todo mundo, Renato e seus Blue Caps, Lafayette, conheci Roberto Carlos. O produtor de Roberto Carlos na época era Evandro Ribeiro, depois Othon Russo, superintendente da gravadora. Repara a diferença, o meu produtor era Abdias, um tocador de oito-baixos, o de Roberto o superintendente da empresa. Tem uma diferença grande, não tem. Mas existe também uma jogada, não posso dizer quem fazia nem quem não. Existem pessoas que chegam pra determinados apresentadores de programa e dizem assim: "Isto aqui é um cigarro pra você e tal. Toque esta música que no fim do mês eu estou aqui de volta e deixo um negocinho com você".
Muitas vezes, o apresentador pega aquela música, uma música que não foi feita com inspiração, foi fabricada. Como ele tá levando qualquer coisa, um pedacinho de jabá, então ele força aquela música, chama-se um sucesso forçado. Então ele não vai deixar de tocar aquela música, pela qual tá recebendo um pedaço de jabá, pra tocar, por exemplo, Jacinto Silva, de quem não está recebendo nem uma peneirinha de farinha.
JC - E como é esta coisa de Caruaru ser a Capital do Forró e no São João fica cheia de grupos baianos, cearenses?
Jacinto - Gostei da pergunta, porque se a gente for analisar direitinho, depois que botaram em Caruaru o apelido de a Capital do Forró, no São João, é até uma vergonha para Caruaru apresentar as atrações que apresentou este ano para os turistas de todo o Brasil. Lá tem forró só que não existem pessoas que cuidem deste lado do forró-raiz, do forró autêntico. O que acontece em Caruaru é isto.
JC- Eles te convidam para cantar no São João?
Jacinto - Me convidam, eu canto, mas se não convidassem eu teria o Brasil inteiro pra cantar. Graças a Deus, apesar de a prata da casa ser devagar, eu consigo agradar a uma certa parte do povo de Caruaru.
JC - O que você acha do forró-cearense?
Jacinto - O forró cearense veio trazer para o Brasil, especialmente para o Nordeste, muita alegria, porque ele reativou o nome forró.
JC - Mas você acha que aquilo é forró?
Jacinto - Não. É o forró que eles cantam, que dizem que é forró. Agora não é o forró que cantava Luiz Gonzaga, que cantava Jackson, que canto eu, que canta Silvério, ou Genival Lacerda. Só sei que eles estão se dando bem financeiramente.
JC - E o que você acha desta moda de forró que acontece agora em Rio e São Paulo agora?
Jacinto - Quando estive em São Paulo no ano passado era uma peste mesmo, daquelas bandas se apresentando em todas as casas de diversões. Mas já soube que o pessoal de São Paulo tá dando preferência ao forró-de-raiz, o forró autêntico, de sanfona, zabumba e triângulo.
JC - Voltando a sua carreira, você gravou muitos compositores, gravou também João do Vale?
Jacinto - Olha nunca gravei. Conhecia João pessoalmente, gostava até daquela voz rouca dele. Fazendo, ele era muito bom, mas cantando eu dizia: "Tu canta ruim demais". Ele ria muito quando eu dizia isto.
JC - Quais os grandes compositores de forró que você gravou?
Jacinto - Gravei bons compositores, como Rosil Cavalcanti, Antonio Barros, Onildo Almeida, Juarez Santiago, quero até pedir desculpas a alguns que não me recordo agora.
JC - E neste disco novo, está gravando músicas inéditas?
Jacinto - Neste Só Não Dança Quem Não Quer, o repertório tá bom, porque muitos amigos e fãs pediam pra eu regravar Chora Bananeira, e eu regravei também, Na Minha Volta Só Escapa Quem Avoa, da minha autoria. Convidei Silvério pra cantar comigo um quadrão. Quadrão mesmo, chama-se Teste Pra Cantador (canta a música, que exige firulas e malabarismo vocais).
JC - Você é um dos últimos cantores da linha de Jackson, daqueles cantam todas as variedades de ritmos que há no forró. Quase ninguém mais sabe o que é um rojão, por exemplo. Você admite que sofreu muita influência de Jackson, o que mais você admirava nele?
Jacinto - Jackson do Pandeiro era um senhor cantor. Nunca mais vi o que vi Jackson fazendo. Por exemplo, você pedia pra ele cantar uma música. Se pedisse pra ele repetir a música ele repetia, agora com a divisão diferente. Eu canto a mesma música com duas divisões, mas Jackson conseguia cantar com três divisões. Era difícil se aprender uma música com Jackson cantando. A maneira de dividir dentro do ritmo, era um negócio.
JC - Voltando ao assunto, muitos dos ritmos do forró perigam acabar porque este pessoal que tá começando, acha que forró é uma coisa só, fica então aquele negócio repetitivo.
Jacinto - É você agora tocou numa tecla importante. (Jacinto mostra, tamborilando com os dedos na mesa, as nuanças do ritmo e dos compassos do xaxado, o rojão, baião, marcha-de-roda, a polkinha). O coco-de-roda por exemplo é diferente de outro coco, porque nele é preciso que a rapaziada responda o coro, para que o cantor diga os versos (Cantarola Ó Amaro, Ó Amaro).
JC - Além de você quantos cantores hoje ainda cultivam estas variedades do forró?
Jacinto - Poucos. Azulão, Messias Holanda, Genival Lacerda, Silverio, Biliu de Campina, olha se reunir no Brasil inteiro dá uns dez. Agora cantoras, tem Marinêz, a irmã da Marinêz, Marinalva, Cremilda, Anastácia, deve ter algumas outras boas que a gente não conhece.
JC - Quando você estava gravando mais, ainda havia aquela coisa de se comprar música?
Jacinto - Existia, esta sempre existiu. Quando cheguei no Rio existia muito. Eu vendi a Genival Lacerda umas quatro músicas - eu quero que ele diga que é mentira minha.
JC - Você poderia citar algumas?
Jacinto - Tapioca, vendi a Genival esta, e vendi: Cadê meu bem. Também: "Vou dançar ciranda, no clarão da lua/ lá na beira do mar"". Vendi também a Genival: "Oh, Helena, venha cá meu bem".
JC- Você dava a parceria?
Jacinto - Não, eu vendia mesmo. estava lá no Rio de Janeiro, precisando. Vendi a Genival Lacerda, fiz uma música; Moça de Hoje, vendi a parceria a Ary Lobo, que gravou.